O país cabe aqui.

Precisamos “despobretizar” os transportes públicos

Por: Manuel Camalata


O acto de providenciar transporte público funcional e eficiente não é um favor que o Estado faz aos chamados “desfavorecidos” do país. É pelo contrário, a garantia de desenvolvimento sócio-económico, político, cultural, científico e até de sanidade mental.

Não se poderá ter um país funcional ou “bom para se viver” e, será sempre ʽescândaloʼ ver governante andar de Candongueiro no próprio país, se continuarmos a ʽpobretizarʼ o uso dos transportes públicos.

Se num país o governante não pode ir trabalhar de transporte público, que ele próprio colocou à disposição dos cidadãos, é claro que temos de admitir a inexistência da sanidade mental, do orgulho pelo próprio esforço diário no cumprimento das obrigações laborais para com a pátria. Não se trata de cada um ter o carro próprio ou protocolar para as responsabilidades que lhe são delegadas na sociedade, mas algo além…

 E aqui chamo atenção aos Deputados para cada um reflectir sobre o que andam de facto a fazer na Assembleia Nacional além de discutir o OGE, que até já me parece mecânico ou automático. Do Kilamba à Mutamba são cerca de 60 KMs de estrada, percorridos em cerca de duas horas, tal é o transito na via.

Tenho a certeza de que se aos Deputados ser retirado o direito a viatura, na mesma legislatura (só para não dizer no mesmo ano parlamentar) teremos um Sistema de Transporte Público Integral a funcionar em pleno. O BRT enterrado em 2015 será uma realidade, teremos comboios do Kilamba, Ramiros à Praia do Bispo, de Cacuaco ao Zango, Benfica e Porto. Até uma via aérea do Golf 2 ao Cassenda e uma via-túnel dos Congolenses à Mutamba serão um facto, à semelhança do que se vê La fora onde vão à férias. E falando de lá fora… há semanas vimos todos, o Primeiro-Ministro do Reino Unido subir à bicicleta para regressar à casa depois de uma reunião. E por cá? Até ginásio é à custa do povo…

Lá fora PhD´s e Presidentes das grandes multinacionais vão ao trabalho de transporte público. Lembro-me, estimado leitor, ter viajado no mesmo autocarro, e também na mesma carruagem do comboio com dirigentes de multinacionais alemãs, e de ter visto menos de 10 viaturas simples em parques de estacionamento de universidade europeia e de empresas de referência.

Não é que não tenham possibilidades de comprar carros próprios. Pelo contrário, não têm é necessidade. E por quê? Porque o Sistema de Transporte Público funciona.

Enquanto os nossos dirigentes continuarem a nos governam á controle remoto continuaremos a pensar que é coisa do outro mundo ver gestos simples da vida humana acontecer no nosso seio. Não existe um super Deus material de que se deve esperar para resolver os problemas do povo. São vocês (governantes) à quem o povo confiou suas vidas (voto). Por isso é muito normal andar de autocarro ou de táxi. Aliás, o transporte público é também um barómetro do impacto do trabalho que os governantes prestam ao povo e igualmente um lugar de interação psíco-social entre o governado e o governante. Portanto, deixemos de ʽpobretizarʼ os transportes públicos.

É preciso que o governo de Angola tenha um verdadeiro projecto de mobilidade urbana. Em que todos os cidadãos (incluindo as autoridades) possam circular pelos diversos espaços da cidade. É inadmissível que o transporte público esteja restrito aos candongueiros é se destine somente a população empobrecida enquanto nossos representantes gozam de bons carros da mais alta tecnologia. Afinal, que patriotismo que estamos a praticar?

Perfil

Manuel Camalata, É Jornalista, Produtor e Editor no programa A Voz da Comunidade da Rádio Eclésia em Luanda.


Os artigos de opinião publicados no Notícias de Angola são da inteira responsabilidade do seu autor. O NA não se responsabiliza por quaisquer danos morais ou intelectuais dos textos em causa, confiando no rigor, idoneidade e credibilidade dos seus autores.

Comentários estão encerrados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está de acordo com isso, mas você pode optar por não participar, se desejar. Aceitar Leia mais

Política de Privacidade e Cookies